1.1. Génese do conceito

The first glimmerings of Web 2.0 are beginning to appear, and we are just starting to see how that embryo might develop (…) The Web will be understood not as screenfuls of text and graphics but as a transport mechanism, the ether through which interactivity happens. It will still appear on your computer screen, transformed by video and other dynamic media made possible by the speedy connection technologies now coming down the pike. The Web will also appear, in different guises, on your TV set (interactive content woven seamlessly into programming and commercials), your car dashboard (maps, Yellow Pages, and other traveler info), your cell phone (news, stock quotes, flight updates), hand-held game machines (linking players with competitors over the Net), and maybe even your microwave (automatically finding cooking times for products).

Era assim que, em 1999, num artigo publicado na Print Magazine, Darcy DiNucci introduzia o termo “Web 2.0” para referir as mudanças que, segundo ela, estavam a tornar a web mais interactiva, mais interconectada e mais presente no nosso quotidiano [1]. Era uma visão ainda muito difusa e exploratória do que aí viria, mas seria suficientemente distante para que se lhe recuse o mérito de ter inventado a expressão?

Seja com for, não lhe coube a glória de ficar na História como o seu criador. Essa ficará sempre indelevelmente ligada a Dale Dougherty, vice-presidente da O’Reilly Media, Inc., uma reputada editora de livros na área da computação, através da organização de uma conferência com essa designação. Diz Tim O’Reilly, reconhecido paladino dos standards abertos (open standards), fundador e director executivo (CEO) da O’Reilly Media, Inc., num artigo de 2005, intitulado What Is Web 2.0: Design Patterns and Business Models for the Next Generation of Software:

The concept of “Web 2.0” began with a conference brainstorming session between O’Reilly and MediaLive International. Dale Dougherty, web pioneer and O’Reilly VP, noted that far from having “crashed”, the web was more important than ever, with exciting new applications and sites popping up with surprising regularity. What’s more, the companies that had survived the collapse seemed to have some things in common. Could it be that the dot-com collapse marked some kind of turning point for the web, such that a call to action such as “Web 2.0” might make sense? We agreed that it did, and so the Web 2.0 Conference was born. (O’Reilly, 30-09-2005: 1)

Nesse mesmo artigo, O’Reilly procura avançar uma explicitação e clarificação do que entende pelo conceito de “Web 2.0”, numa altura em que, em seu entender, havia grande instabilidade e confusão em volta do mesmo. Reportando-se à já mencionada sessão de brainstorming, apresenta um quadro em que se procurava estabelecer as diferenças entre a “velha web” e a “nova web”:

Web 1.0 Web 2.0
DoubleClick

Ofoto

Akamai

mp3.com

Britannica Online

personal websites

evite

domain name speculation

page views

screen scraping

publishing

content management systems

directories (taxonomy)

stickiness

Google AdSense

Flickr

BitTorrent

Napster

Wikipedia

blogging

upcoming.org and EVDB

search engine optimization

cost per click

web services

participation

wikis

tagging (“folksonomy”)

syndication

Quadro 1 – What Is Web 2.0. Tim O’Reilly (30-09-2005).

A Web 2.0 poderia, então, ser entendida como um deslocamento dos aspectos mais técnicos – o software que a suporta – para uma experiência de utilização enquanto plataforma através da qual são distribuídos serviços, orientados para o utilizador, em permanente transformação (uma espécie de beta perpétuo), com características novas que se encontram evidenciadas na representação gráfica que se apresenta abaixo e que incluía alguns dos elementos que se viriam a tornar verdadeiras pedras angulares neste conceito: maior controlo por parte do utilizador, maior personalização dos conteúdos e serviços, a participação, a inteligência colectiva, a fragmentaridade/atomização/modularidade da informação, ligada de modo fluído e recombinável, granularidade, etc.

 

Fig. 1 –  What Is Web 2.0. Tim O’Reilly. Brainstorming session at FOO Camp 2005.

Nessa transição, o factor essencial de sucesso parece ser a capacidade de mobilizar aquilo que O’Reilly designa como a inteligência colectiva, potenciada pelo poder da rede (O’Reilly, op. cit.). Esta desenvolve-se de uma forma análoga à do cérebro, organicamente, tornando-se mais rica e complexa à medida que novas (hiper)ligações vão criando conexões com os novos sites e os novos conteúdos contribuídos por uma multidão de utilizadores.

 

Notas

[1] O texto foi consultado online no site AllBusiness http://www.allbusiness.com/periodicals/article/383501-1.html[5 de Julho de 2006], mas entretanto desapareceu. Há, contudo, outras referências que atestam esta circunstância: http://thomashawk.com/2006/05/tim-oreilly-sends-a-cease-and-desist-to-a-… [acedido em 15-12-2008] e http://digitallife.germanblogs.de/archive/2006/06/25/z79hltvluga9.htm [acedido em 15-12-2008]. Um contacto por e-mail com Darcy DiNucci permitiu obter uma cópia do artigo referido em PDF. Segundo a autora, este será disponibilizado online brevemente.

Referências Bibliográficas

DiNucci, Darcy (1999). Fragmented Future. Print Magazine. Disponível em http://www.allbusiness.com/periodicals/article/383501-1.html [acedido em 09-11-2006]. Ver PDF.

O’Reilly, Tim (09-2005). What Is Web 2.0: Design Patterns and Business Models for the Next Generation of Software. O’Reilly. Disponível em https://www.flickr.com/photos/36521959321@N01/44349798 [acedido em 15-12-2008].