Talvez ninguém saiba porquê (eu, seguramente, não sei), mas às vezes parece que as coisas na Natureza andam aos pares. Esta pandemia caiu como chuva em solo gretado e fez brotar com admirável pujança dois tipos de entes que se reproduzem com invejável rapidez e tenacidade: a PQTOQDMTCULACDO e a PQSEEQCEQPITSEEEDENPNDA.
Comecemos pela PQTOQDMTCULACDO que, trocada por miúdos, é a
PessoaQueTemOQuadroDoMeninoTristeComUmaLágrimaAoCantoDoOlho.
A PQTOQDMTCULACDO descobriu agora, com a expectativa provável de o 3º período ser lecionado a distância, que existem grandes assimetrias na nossa sociedade, que há muitas crianças e jovens que passam mal, que têm famílias disfuncionais, que não têm o mínimo de que precisam para estudar e aprender adequadamente, que têm pouca ou nenhuma ajuda fora da escola, enfim, que estão numa injusta, incompreensível e desnecessária desvantagem, num país desenvolvido, face a outras crianças e jovens com muito melhores condições para atingir aquilo que todos gostariam de atingir. É uma suposta igualdade de oportunidades num jogo em que uns têm meios muito superiores a outros.
Isto causa muita lamúria à PQTOQDMTCULACDO, que, não se desfazendo em lágrimas, tem sempre uma no cantinho do olho por estes meninos desvalidos, bem como uma bateria de razões pelas quais, face a este drama recém-descoberto, o melhor é não fazer nada com ninguém. A cada uma das PQTOQDMTCULACDO, eu pergunto:
ONDE É QUE TU ESTAVAS ANTES DA COVID-19?
(obrigado Eduardo Madeira e Herman José)
Quem sempre lutou contra as desigualdades e pela equidade no acesso (e na vivência e concretização, porque só acesso não chega) à educação de crianças e jovens, e conheço quem o faça todos os dias, tem a minha admiração e o meu obrigado. À PQTOQDMTCULACDO, digo: tem decoro e fica calada. Ou senta-te no teu sofá coberto com uma manta feita em croché e fala com o menino no quadro.
Passemos, agora, à PQEEEQCEQPITEEEEADENPNDA, isto é, a
PessoaQueÉEspecialistaEmQualquerCoisaEQuePorIssoTambémÉEspecialistaEmEnsinoADistânciaEmboraNãoPercebaNadaDoAssunto.
Estes seres têm uma apetência especial por jornais e televisão onde, por mérito do seu currículo e experiência profissional, ou por amiguismo e clientelismo de vários tipos, vão deslumbrando o povo com a sua prosa ou a sua oratória. Não pensemos que todos os indivíduos designáveis como PQEEEQCEQPITEEEEADENPNDA são completamente maus. Bem pelo contrário. Alguns são brilhantes nas suas áreas de especialidade, e têm, certamente, muito saber para partilhar e para nos ajudar a todos nesta emergência. Acontece-me, por vezes, estar a ler um texto e a pensar: “Boa, bela reflexão; sim senhor, é isto mesmo; vou republicar isto que está muito bom”, etc. O problema é quando, num virar de esquina, sem qualquer aviso ou sobressalto, passam de falar dos assuntos em que são especialistas (Economia, Administração Educacional, História, Filosofia, Comunicação, Gestão financeira, NADA, no caso de alguns) para perorar sobre o Ensino a Distância, adjetivando, caracterizando, qualificando e julgando com a certeza que lhes advém da sua sabedoria nas áreas que, de facto, conhecem. Sempre para dizerem, naturalmente, que o EaD é muito fraco face ao presencial, nem tem comparação.
Isto é estranho. Alguém devia pôr um degrau na cabeça da PQEEEQCEQPITEEEEADENPNDA entre aquilo que ela realmente sabe, e de que pode falar com propriedade, e aquilo que acha que sabe sobre Ensino a Distância porque sim. Talvez esse pequeno trambolhão evitasse termos que ler coisas tão desinformadas e ignorantes como as que temos visto, até de alguém que já foi Ministro da Educação (pasme-se).
Então, digo à PQEEEQCEQPITEEEEADENPNDA: fala do que sabes e eu agradeço partilhares o teu saber. Quando te vier a vontade de falar de Ensino a Distância, VAI LER e aproveita o saber que outros, que são especialistas disso, têm para partilhar contigo.