Não tenho nenhuma palavra crítica para os professores que decidiram dar a cara na iniciativa #estudoemcasa. Não sei em que condições foram convidados ou voluntariados, se avançaram por convicção ou por obrigação, mas estão a fazer certamente o seu melhor, como sempre fazem quase todos os professores. Querer julgar o desempenho em televisão de amadores, ainda por cima em circunstâncias muito difíceis, não faz sentido nenhum. Os professores são heróis, sim, mas não é só agora: têm-no sido desde sempre – basta olhar para a evolução de Portugal desde o Abril que agora estamos prestes a festejar para perceber que, embora existam outros responsáveis com quem partilhar o êxito, tal não seria, seguramente, possível sem o empenho dos professores. E se olharmos para este século, e para a forma injusta e, a espaços, quase insultuosa como os professores têm sido tratados por todos os governos, com a complacência, se não colaboração, de muita comunicação social, então só podemos admirar ainda mais o seu profissionalismo e a sua dedicação. E não se deixem entusiasmar pelas palavras elogiosas de circunstância que agora chovem sobre nós. Logo que tudo volte a uma relativa normalidade, voltaremos também nós a ser um peso inaceitável no orçamento de estado, uns privilegiados que trabalham meio-dia, que têm 3 meses de férias e que, na boca de alguns, são do pior que a sociedade portuguesa tem.
Dito isto, diverte-me a vaga de tonitruantes elogios e estentóreos BRAVO!, que qualificam esta iniciativa de “heroica”, de “êxito retumbante”, a última maravilha de um ministério da educação abençoado com uma visão extraordinária na sua intervenção nesta emergência (o estilo é hiperbólico, eu sei, mas é para estar ao nível). O interessante é que, não raro, procuram centrar a discussão nesses “heroicos” e “extraordinários” professores, apelidando de tudo e mais alguma coisa quem se atreva à menor crítica da iniciativa. Convenhamos que há aqui, da parte de muita gente, esperteza nada saloia. Pondo o foco nestes heróis e definindo aí o contexto de discussão, abrem um enorme chapéu de chuva que ajuda a cobrir a iniciativa em si e os responsáveis do ministério da educação. Quem criticar estes estará, por força desse enquadramento, a criticar aqueles.
Dos professores já disse o que penso no início. Da iniciativa também, noutro texto. Mas reitero aqui: ESTA foi a solução do ministério para atender aos alunos sem equipamento e/ou acesso à Internet, o que os impossibilita de realizar com um mínimo de qualidade e condições a aprendizagem a distância. Não foi, como alguns “amigos” da iniciativa agora dizem, uma entre várias. E este ressuscitar da Telescola foi uma estratégia errada e incompreensível em 2020. Já outras pessoas o referiram, melhor do que eu, mas para quem não saiba, a velhinha Telescola, que nasceu em janeiro de 1965, num Portugal atrasado, pobre e inculto, e terminou em inícios deste século, com o país já noutro patamar completamente diferente, era muito melhor do que isto. Teve os seus méritos e cumpriu a sua função, mas existem hoje alternativas muito mais adequadas para apoiar e promover a aprendizagem não presencial. E foi, no fundo, esta oportunidade que, por falta de coragem e liderança no ministério da educação, se perdeu – a de conceber e implementar uma estratégia de aprendizagem a distância inclusiva, em que todos pudessem participar com um mínimo de equidade, providenciando a quem não tem o necessário para o fazer. No fundo, uma iniciativa digna de um Portugal moderno e desenvolvido.
Para quem anda tão embevecido e deslumbrado com a nova Telescola, deixo aqui um presente que é do mesmo ano da original (1965)