Autor: José Mota
Data: Jan 6 2006 12:23:PM
Assunto: José Mota / Definição do conceito “Educação em Rede”
A tarefa, tal como é proposta, parece simples; a resposta, para mim, está longe de o ser. O primeiro impulso é pensar em conhecimento partilhado, aprendizagem com os outros, começando a percorrer esse caminho até que, de repente, me apercebo que o conceito fala em “educação” e não em “aprendizagem”, e estas são duas coisas muito distintas. Educação engloba, para além de quem aprende ou se “educa”, os organismos e instituições que organizam e facultam a educação, e para quem a expressão “em rede” também tem um significado maior no que toca à forma como vêem e desenvolvem a sua actividade. Para adensar o problema, temos ainda a questão de estes termos – “educação”, “aprendizagem” e “em rede” – poderem ser encarados de diferentes perspectivas e designarem, por isso, conteúdos diferentes consoante a perspectiva adoptada. Só para dar o exemplo mais simples, “em rede” pode referir-se, apenas, ao sistema que distribui a informação (as TIC), tendo nesse caso uma natureza tecnológica, ou às relações inter-institucionais e interpessoais que se estabelecem e através das quais se potencia a actividade dos diversos intervenientes, tendo aí uma natureza sociológica e pedagógica.
Será, então, necessário conciliar nessa frase ou imagem estes aspectos diferentes e intimamente relacionados: por um lado, a estrutura ou sistema que organiza e oferece a educação e, por outro, a actividade aí desenvolvida pelas pessoas que a procuram, ou seja, a aprendizagem, procurando, ainda, encontrar a formulação feliz que acolha os dois planos da expressão “em rede” que referi.
Em resumo, poderia ter evitado o longo intróito e dizer, apenas: a pergunta é complexa e difícil, e eu não sou capaz de, numa frase, realizar a síntese necessária. Mas, como ser humano que sou, tenho sempre esta tendência para procurar algures as razões das minhas falhas e, também, tentar encontrar uma solução que as disfarce. As razões já as expus, a solução parece-me óbvia: tenho que tomar partido, isto é, escolher uma perspectiva e falar a partir daí.
Como sou, de profissão, professor, e, neste contexto, aprendente, a escolha é fácil: opto claramente pela perspectiva sociológica/pedagógica, em detrimento da institucional/organizacional, o que me resolve também a dificuldade relativa ao “em rede”. Com uma vantagem adicional: continuo, nesse conflito persistente entre a supremacia tecnológica ou pedagógica que se desenrola na área do e-learning, a fazer campanha pela pedagogia, puxando descaradamente a brasa às minhas, neste caso, sardinhas.
Então aí está a minha sofrida e sofrível definição:
Educação em rede é o processo através do qual os indivíduos podem adquirir ou desenvolver competências e capacidades em interacção com outros, em contextos organizados, formais ou informais, apoiados nas tecnologias da informação e da comunicação, sendo que essa interacção não implica, necessariamente, trabalho colaborativo/cooperativo, mas envolve uma forte dimensão social e de partilha de conhecimento e de experiências.
Pronto, já está. A frase é muito comprida para cumprir o requisito de ser apenas uma, o mais que se pode fazer é juntar um ou dois adjectivos à sua qualificação. Além de sofrida e sofrível, talvez seja confusa e até, do ponto de vista do estilo, ligeiramente barroca 🙂
P.S. Peço desculpa pela extensão, mas ando a ler “As intermitências da morte”, do Saramago, e acho que me deixei contagiar pelo estilo 🙂