Estilos Cognitivos e Estilos de Aprendizagem

Em relação aos estilos cognitivos, categorizações como “reflexivos”, “impulsivos”, “introvertidos” ou “extrovertidos”, ou a distinção entre “independentes de campo” e “dependentes de campo”, e as respectivas descrições deixam-me sempre a pensar se a complexidade de comportamentos humanos e a variabilidade que se conhece em função dos contextos e das situações poderá ser assim arrumada de forma tão linear. Depois, vários autores acabam por interrelacionar os dois conceitos, resultando os processos e abordagens da aprendizagem quer de factores de ordem mais “psicocognitiva” quer de outros mais ligados aos contextos e às situações.

Em relação aos estilos de aprendizagem, vários dos modelos propostos não parecem, sequer, ser compatíveis. Curioso, por exemplo, é o modelo de Silverman, em que não se percebe claramente onde é que entra a leitura, tradicionalmente um dos canais de banda larga por onde a informação chega ao sujeito que aprende. Se nos lembrarmos do que Ong dizia acerca da importância da escrita (e consequentemente da leitura) tínhamos aqui muito que explorar e discutir.

Consensual parece ser, em relação aos estilos de aprendizagem, que estes dependem bastante dos conteúdos e dos contextos de aprendizagem, bem como do significado que os alunos atribuem aos resultados da aprendizagem numa situação específica.

O que parece inegável é que as pessoas processam a informação de modos diferentes e aprendem de maneiras diferentes, constituam esses modos e maneiras elementos estáveis ou dinâmicos, que vão variando ou evoluindo e transformando-se.

Consequentemente, torna-se óbvia a necessidade de garantir a diversidade de meios, materiais e estratégias de ensino, não só porque isso vai ao encontro das diferenças indiduais, mas também porque contribui para um contexto de aprendizagem mais rico e mais estimulante. Neste sentido, a perspectiva de Duff (2000) parece-me bastante interessante. Mais do que tentar adequar o ensino a estilos específicos de aprendizagem que podem ou não ser estáveis (que podem ou não ser identificáveis pelo professor, digo eu), a preocupação deve centrar-se na criação de contextos com grande pluralidade de formas, recursos e processos (em certo sentido, também, parcialmente redundantes), em que se favoreça uma abordagem profunda e não meramente instrumental à aprendizagem.

Um outro aspecto fundamental no que se refere aos alunos é a questão do auto-conhecimento: o famoso “aprender a aprender” ou a metacognição. Quanto maior for a percepção que o indivíduo tem sobre as formas como aprende, os seus pontos fortes e os seus pontos fracos, os elementos comtextuais que o ajudam ou o prejudicam, maior partido poderá tirar das suas competências e melhores aprendizagens poderá realizar.

Isto passa, naturalmente, não pela aceitação acrítica de que “somos todos diferentes e todos iguais”, mas sim pela facilitação efectiva que quem ensina deve tentar promover dos processos reflexivos, de experimentação e aferição dos alunos, do confronto de estratégias e processos de trabalho, de modo a ajudá-los a aprofundar e desenvolver esse conhecimento de si próprios, a estabilizar o que se revela adequado e a alterar o que é manifestamente inadequado.

josemota

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