A Motivação (a propósito dos materiais multimédia interactivos)

Não é que eu discorde da importância da motivação na aprendizagem, mas discordo muito da perspectiva actualmente dominante em alguns círculos (e não estou a dizer que é o caso de ninguém aqui, porque não sei) de que essa motivação depende e deve depender sobretudo da actuação dos professores ou dos materiais utilizados. Sendo óbvia a quota parte que quer uns quer outros têm no processo, e consequentemente a necessidade de pensar nesses aspectos, a verdade é que existem muitas outras variáveis envolvidas nas questões complexas da motivação, quer de outros contextos quer, também, do foro intrínseco. Aliás, a perspectiva que faz depender quase exclusivamente a motivação de factores externos – o professor, os materiais, a escola, etc. – esquece facilmente que a motivação mais forte é a intrínseca, a que está ligada a objectivos pessoais, a projectos de vida, a percursos de realização pessoal. Sem descurar a primeira, é sobretudo desta segunda que importa cuidar (e promover).

Além disso, e porque se relaciona com outras linhas de discussão, é bom de ver que essa motivação extrínseca tem sido promovida, (não só na escola, como também fora dela), sobretudo a partir do aumento dos níveis de estimulação. É precisamente por causa disso que temos que ter alguma cautela quando elogiamos as potencialidades dos materiais multimédia ou hipermédia (que as têm, sem dúvida), que podem levar à noção de que quanto mais média e diversidade mais motivação. O Dillenbourg, aliás, bem refere que um bom AVA nem tem que ser como uma árvore de Natal, pode ser uma coisa simples, e acho que o mesmo se pode dizer dos multimédia.

Um determinado nível de estimulação e de motivação extrínseca despertam os sentidos e a inteligência. Mas um excesso de estimulação e de motivação extrínseca, sem o desenvolvimento de mecanismos intrínsecos de motivação e de auto-estimulação (de ambição, de querer) conduz, ao contrário, ao embrutecimento dos sentidos e da inteligência, à apatia e à dependência extrema dos factores externos. A verdade é que é cada vez mais difícil motivar extrinsecamente os alunos, não só por causa da escola, mas também porque essa tem sido a abordagem prevalente na educação de crianças e jovens em muitos sectores dos países desenvolvidos.

Do meu ponto de vista, os aspectos relacionais (como já várias pessoas referiram), interpessoais ou até, com hoje se sabe, intrapessoais, são os aspectos verdadeiramente determinantes em termos da aprendizagem.  

josemota

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