1) Tendo em conta que o objectivo desta disciplina é adquirirem competências para a elaboração de programas de ensino a distância, e que no final o irão fazer, quais são os aspectos que não podem ignorar?
Os que me parecem mais importantes são os que se encontram contemplados na definição de Keegan, à excepção do último – ausência do grupo de aprendizagem – que não é já uma inevitabilidade, dadas as possibilidades oferecidas pela tecnologia actualmente.
1) Separação física entre quem ensina e quem aprende
Implica um grande cuidado e uma estratégia bem desenhada no que se refere à comunicação, à disponibilização de informação e à sua distribuição. O grau de ambiguidade e mal-entendidos na comunicação escrita é muito superior ao da comunicação em contexto presencial, não só devido à ausência de todo um conjunto de sinais e códigos que ajudam a interpretar as mensagens e a fixar o sentido, mas também porque as eventuais dúvidas ou incompreensões podem ser expostas/dissipadas, em contexto presencial, no próprio momento em que a comunicação se realiza.
Uma maior necessidade de desenhar, antes do início do curso, todo o processo a desenvolver – materiais, actividades, momentos de avaliação, etc. – de modo a que o estudante tenha sempre uma ideia clara do que se espera dele.
Uma atenção especial aos canais, suportes e formas de comunicação, porque se algo falhar desse ponto de vista, geram-se situações de grande desorientação e ansiedade (e não necessariamente apenas por parte do estudante).
2) Mediação Tecnológica
Primeiro, deve ter-se uma perspectiva adequada do papel da tecnologia em todo o processo: em vez de se pensar o que é que a tecnologia permite fazer, para se desenhar, a partir daí, materiais, actividades e situações de aprendizagem, deve pensar-se, antes, o que queremos fazer (que tipo de situações de aprendizagem queremos desenvolver e que tipo de aprendizagens queremos promover), e procurar, depois, as soluções tecnológicas que sirvam os nossos propósitos.
Assegurar que as soluções tecnológicas são fiáveis e funcionais, e ter processos redundantes ou alternativos que permitam superar ou minorar eventuais falhas. O corte ou as dificuldades extremas na comunicação são o ponto mais sensível na aprendizagem a distância.
A tecnologia funciona, claramente, a níveis diferentes: como canal de comunicação, como suporte de materiais e como o contexto onde se desenvolve o próprio processo de aprendizagem, pelo menos. Desses níveis diferentes resultam problemas e necessidades também diferentes.
3) Influência de uma organização
Assegurar que o trabalho que se quer desenvolver encontra suporte suficiente dentro da organização, desde os aspectos científicos, passando pelos aspectos tecnológicos, aos aspectos administrativos e processuais, e que existem os meios e o know-how para que se possa concretizar esse trabalho. É verdade que o desenvolvimento tecnológico veio “aliviar” um pouco o peso da organização, mas ainda é extremamente difícil desenvolver um trabalho de qualidade sem um nível mínimo de suporte.
4) Comunicação bidireccional (e multidireccional, se ensino online/e-learning)
Os aspectos mais relevantes são uma conjugação de elementos referidos em 1) e 2), sendo de salientar a importância de boas estratégias de comunicação e orientação do trabalho dos estudantes. Acrescente-se, no caso do ensino online, a importância de facilitar e organizar a comunicação informal entre os estudantes, por forma a construir uma dimensão social de grupo e, assim, estabelecer as bases de uma comunidade de aprendizagem.
2) Como criar um programa/curso de ensino a distância que se possa dizer que é flexível e aberto? Qual a vantagem desse tipo de programa/curso? E desvantagem? Será que a disciplina de MED se define como flexível e aberta? E o PEL?
As noções de “abertura” e de “flexibilidade” confundem-se a vários níveis. Gaspar (2001), por exemplo, considera a segunda uma variável da primeira. De qualquer modo, o que parece claro é que se tratam de características que não se exprimem em termos absolutos mas sim relativos, constituindo um continuum entre um grau mínimo e um grau máximo.
Aquilo que marca claramente a distinção entre cursos mais ou menos abertos/flexíveis, em meu entender, é a questão da certificação (embora haja, naturalmente, excepções). Por razões sociais e profissionais, os cursos que conferem certificações reconhecidas no mercado laboral ou nas carreiras profissionais têm, necessariamente, um grau de abertura e flexibilidade muito menores do que outros que se situam na área do desenvolvimento social (alargamento cultural, exploração de interesses complementares, etc.).
Nos primeiros, os objectivos, as metodologias, as estratégias, os momentos e instrumentos de avaliação, bem como os requisitos de acesso, para referir apenas alguns aspectos, estão predefinidos e são obrigatórios na esmagadora maioria dos casos. Nos segundos, muitos destes aspectos podem ser definidos de acordo com os interesses individuais, ser adaptados e alterados ao longo do processo, ou até estar ausentes (a avaliação sumativa, a classificação ou os requisitos de entrada, por exemplo).
Considerando o nosso PEL/MPEL, e tendo em conta o que refiro acima, parece-me óbvio que o grau de abertura/flexibilidade é relativamente baixo.
Dito isto, podem sempre encontrar-se algumas áreas de flexibilidade e abertura nos cursos que conduzem a uma certificação, e que acho estarem presentes neste nosso curso. Algumas derivam da própria natureza do ensino a distância – a flexibilidade na gestão do tempo e do espaço, por exemplo – outras derivam da abordagem adoptada – a possibilidade de alguma negociação do contrato de aprendizagem, ou a liberdade de escolha relativa à forma como se realizam algumas actividades ou aos produtos que se elaboram.
Outro aspecto que acaba por introduzir bastante abertura e flexibilidade, nomeadamente no que se refere às aprendizagens realizadas, tem a ver com a abordagem claramente colaborativa e de muita interacção por que se optou (pelo menos nas disciplinas até ao momento). O facto de partilharmos as nossas reflexões, confrontarmos os nossos pontos de vista e contribuirmos com as nossas experiências e competências diversificadas leva a que realizemos muitas aprendizagens não previstas e desenvolvamos algumas competências de forma “colateral”
[] José Mota